Sunday, June 17, 2007

(anti)auto-(des)doutoramento


Esta é a oportunidade para ir construindo, em associação com as minhas «heteronomias», ou com outros, uma espécie de multi-tese/hipertese de (des-)doutoramento - a primeira pessoa a quem devo prestar contas das minhas hipóteses sou eu, e como tal devo criar vários tipos de refutadores-libertadores internos (personagens, A, B ou C) que lhe agucem e espicacem os arguimentos: as politeorias controem-se praticando heteroautorias ( e não anonimices)


depois vêm os meus amigos, hipotéticas hipoteses de recepção, e alimento de hipóteses - colaboradores obscuros: as teses, com os seus diferendos, não são incompatíveis com o trabalho de grupo ou em rede - não se trata apenas de implicar os outros em co-autorias... eu sei, pela minha experiência que as hipóteses alheias, mesmo quando muito vagas, são propulsionadoras de novas pistas, abrindo ferteis caçadas teóricas


finalmente, mesmo que não sejamos lidos, examinados, agregados a um sistema, estamos, ainda que quase anónimos, inseridos nesta cadeia on-line que é acessível, consultável sem entraves


- dir-se-ia que as hipóteses são de ouro (valem massa), e que a sua secrecy e originalidade são o garante de poder e ganha-pão


- quanto ao poder pode ir à vida, e é por isso que vou construir estas teses, que não doutoram em nada, à margem dos circuitos universitários e seguindo as intuições de uma lingua periférica que tem a virtude, relativamente a linguas «simplistas» como o inglês, de se gostar de enredar em «complicações»


sabemos que podemos contar com a tecnologia e com a multidão de documentos on-line, sejam escritos, visuais, audiovisuais, etc. - também sabemos que a tecnologia é o progresso da obselescência


uma tese, neste mundo «complexo», é um work-in-progress, como o foi o Wake do Joyce - já não estamos no prisma do acabamento hegeliano, de um fim onde se concentra a consciência


mesmo o «absoluto» tem que ser pensado como inacabado e inoriginal, sem fim nem começo - é isto que define a inalienável «mediatibilidade» (mediatibility), ou imediatibilidade, ou ainda intermediatibilidade, qualquer destes termos pode ser usado como um ajuste de contas


tomemos como exemplo, e irónicamente a questão do fim-da-arte hegeliano à luz-cliché do ready-made de duchamp - o fim-da-arte é um passe-partout - mas a prática duchampiana apenas diz a «abertura» e o «inacabamento», dois termos problemáticos que me recordam a já velha opera aperta do Umberto Eco - o interessante é que neste inacabamento interferem as noções já clássicas de entropia e neguentropia: o que não acaba é o que prossegue como degradação que continua a formar e informar e criar e arrastar o lixo - periferismo e mestiçagem? não tenho resposta, mas é uma condição a que não sou/somos alheio(s)

1 comment:

Orlando Lopes said...

Caro Pedro, di-vagando on-lines, tropecei no heterothesis. Vi, li, reli. Gostei do que experimentei, mesmo o que (ainda) não entendi. Até já linkei nos meus "Occidentia" e "Máquinas de Mundo", aos quais te convido.

Um abraço,

Orlando Lopes

Máquinas de Mundo - http://mmundotese.blogspot.com/

Occidentia - http://occidentia.blogspot.com/